"O gato mordeu sua língua?" e "Olha o seu irmão, ele não tem vergonha" são algumas das frases que os pequenos que sofrem com a timidez costumam ouvir. No entanto, comportamentos como esses, ao invés de ajudar, podem atrapalhar o desenvolvimento das crianças
Uma recusa em cumprimentar alguém ou em falar em meio a um grupo de
desconhecidos: essas são atitudes bastante comuns entre os tímidos.
Muitas vezes, esse comportamento acontece apenas nos momentos em que o
pequeno muda de espaço, como em uma escola nova ou numa festa; em
outras, o medo e a insegurança são tão grandes que fica impossível
conversar com qualquer um que não seja o pai ou a mãe. Especialistas
classificam a timidez como sendo um traço da personalidade de um
indivíduo. "Ela é o resultado de experiências que a criança viveu,
somadas ao temperamento dela, gerando uma dificuldade em socializar, em
estar dentro do coletivo", define a psicóloga Christine Bruder,
idealizadora do berçário Primetime, um centro de desenvolvimento para
bebês de 0 a 3 anos de idade, localizado na capital paulista.
E
não há nada de errado com isso! Na verdade, quando se manifesta de forma
leve, essa característica é até benéfica. "Ela impede a criança de ser
muito impulsiva. Como o que está por trás da timidez é o medo, às vezes,
o pequeno consegue se proteger exatamente por ser tímido", revela a
doutora em educação Andréia Wiezzel, professora da Universidade Estadual
Paulista (Unesp), em Presidente Prudente, no interior de São Paulo. O
problema existe quando esse comportamento interfere nos relacionamentos e
na sociabilidade da meninada. Nesses casos, os efeitos podem ser graves
e se estender para a adolescência e a vida adulta. "Em geral, são
crianças que não exploram muito as coisas, elas não têm iniciativa
porque temem as consequências. E crescer com isso pode ser prejudicial
para os processos criativos e as relações amorosas", alerta Andréia.
Ao
perceber que a personalidade introvertida do seu filho está
prejudicando o seu desenvolvimento, é aconselhável que os pais procurem
um psicólogo. Mas não só: prestar atenção na forma como lida com a
criança (dentro e fora de casa) e evitar certas atitudes também pode
ajudar o pequeno a superar suas inseguranças e a impedir que elas se
agravem. Confira a seguir algumas dicas do que pais e mães de quem é
tímido não devem fazer.
1. Ser superprotetor
Filhos
de pais superprotetores, que não os deixam ter suas próprias
experiências, tendem a ser mais tímidos. "Isso porque, em geral, os pais
superprotetores também sentem medo. Então, não permitem que a criança
faça uma série de coisas. Essa atitude passa para o pequeno um medo e
uma insegurança, que são a base da timidez", explica a professora da
Unesp.
Inclusive, essa relação foi demonstrada em um estudo da
Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, publicado em dezembro de
2014 no periódico Child Development, jornal científico da Sociedade para
Pesquisa no Desenvolvimento da Criança, também americana. No trabalho,
os pesquisadores acompanharam 165 voluntários, dos 4 meses de vida até a
adolescência. Ao longo desse período, os cientistas analisaram seus
comportamentos por meio de testes feitos em laboratório e de
questionários preenchidos pelos pais. Quando os participantes tinham
entre 14 e 17 anos de idade, veio o resultado: aqueles que eram
inseguros, muito apegados ao pai e à mãe ou que sofriam restrições
durante a infância apresentavam níveis maiores de ansiedade e timidez
depois de crescidos.
2. Expor a timidez do filho para os outros
"O
gato comeu sua língua?", "Para de ser bicho do mato!". Engana-se quem
pensa que ao dizer frases como essas está fazendo bem para os pequenos
que são tímidos. Ao contrário: ao expor a timidez para outras pessoas, a
insegurança e o medo só aumentam. "A criança costuma interpretar
exatamente o que está sendo dito. 'O gato comeu sua língua' pode dar a
ideia de que ela deu algum motivo para que isso tenha acontecido, como
se fosse um problema", critica Andréia Wiezzel.
O primeiro passo
para evitar casos como este é respeitar o jeito de ser do seu filho. "Se
isso acontecer, a tendência é que ele vá amenizando esse traço de
personalidade e adquirindo mais recursos sociais", diz Christine Bruder.
Para ajudá-lo nesse processo, proponha brincadeiras que simulem as
situações que ele não consegue enfrentar, como ter vários amigos ou ir a
uma festinha. "É importante deixá-lo conduzir para que mostre seus
anseios e dificuldades", recomenda a docente da Unesp.
3. Comparar com outras crianças
"Comparações
são desrespeitosas em qualquer circunstância. Todo mundo tem que ser
amado pelo que é", defende a criadora do berçário Primetime. É bem por
aí mesmo. A criança tímida ainda não está emocionalmente pronta para
enfrentar certas situações - e isso deve ser respeitado. "Ela precisa
criar uma estrutura interna que a permita ter essa experiência para a
qual ainda não está preparada", afirma Andréia Wiezzel. Portanto,
procure conversar com seu pequeno e entender do que ele tem medo. Essa
pode ser uma boa saída para desfazer muitas das fantasias que ele criou -
e que alimentam essa timidez toda.
4. Forçar o pequeno a fazer algo que ele não quer
Esse
é um dos maiores erros cometidos pelos pais de crianças tímidas.
"Muitas vezes, no intuito de ajudar o filho, eles acabam empurrando-o
para uma situação que pode ser dolorosa", pontua Christine Bruder. Em
vez de forçar a barra, tente negociar: se seu filhote não quer ir a uma
festinha de aniversário, por exemplo, proponha acompanhá-lo. Chegando
lá, é bem provável que ele veja os outros se divertindo e acabe se
soltando. "Quando o pequeno sente que o adulto é parceiro e facilitador,
ele tende a ter uma postura de maior aceitação", garante a psicóloga.
5. Ser autoritário
Está
aí outra atitude que pode tornar meninos e meninas mais tímidos. "Uma
criança que tem uma família muito autoritária, que a agride emocional ou
fisicamente, acaba não desenvolvendo uma segurança na relação com os
pais. E isso pode levar à timidez", adverte a professora da Unesp.
Portanto, fica o recado: criar o seu filho com amor e carinho -
respeitando a sua personalidade e observando comportamentos que podem
trazer prejuízos - é tudo o que ele precisa para crescer feliz e
confiante de quem é.
Fonte: http://educarparacrescer.abril.com.br
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