Ninguém nasce consumista. O consumismo é uma ideologia, um
hábito mental forjado que se tornou uma das características culturais mais
marcantes da sociedade atual. Não importa o gênero, a faixa etária, a
nacionalidade, a crença ou o poder aquisitivo. Hoje, todos que são impactados
pelas mídias de massa são estimulados a consumir de modo inconsequente.
As crianças, que vivenciam
uma fase de peculiar desenvolvimento e, portanto, mais vulneráveis que os
adultos, não ficam fora dessa lógica e infelizmente sofrem cada vez mais cedo
com as graves consequências relacionadas aos excessos do consumismo: obesidade
infantil, erotização precoce, consumo precoce de tabaco e álcool, estresse
familiar, banalização da agressividade e violência, entre outras. Nesse
sentido, o consumismo infantil é uma questão urgente, de extrema importância e
interesse geral.
De pais e educadores a
agentes do mercado global, todos voltam os olhares para a infância − os
primeiros preocupados com o futuro das crianças, já os últimos fazem crer que
estão preocupados apenas com a ganância de seus negócios. Para o mercado, antes
de tudo, a criança é um consumidor em formação, consumidor de hoje e do amanhã,
e uma poderosa influência nos processos de escolha de produtos ou serviços.
As crianças brasileiras
influenciam 80% das decisões de compra de uma família (TNS/InterScience,
outubro de 2003). Carros, roupas, alimentos, eletrodomésticos, quase
tudo dentro de casa tem por trás o palpite de uma criança, salvo decisões
relacionadas a planos de seguro, combustível e produtos de limpeza que têm
pouca influência dos pequenos.
No Brasil, a publicidade
na TV e na internet são as principais ferramentas do mercado para a
persuasão do público infantil, que cada vez mais cedo é chamado a participar do
universo adulto quando é diretamente exposto às complexidades das relações de
consumo sem que esteja efetivamente preparado para isso.
As crianças são um alvo
importante, não apenas porque escolhem o que seus pais compram e são tratadas
como consumidores mirins, mas também porque impactadas desde muito jovens
tendem a ser mais fiéis a marcas e ao próprio hábito consumista que lhes é
praticamente imposto.
Nada, no meio
publicitário, é deliberado sem um estudo detalhado. Em 2006, os investimentos
publicitários destinados à categoria de produtos infantis foram de R$ 209
milhões(Ibope Monitor, 2005x2006, categorias infantis). No entanto, a
publicidade não se dirige às crianças apenas para vender produtos infantis.
Elas são assediadas pelo mercado como eficientes promotoras de vendas de
produtos direcionados também aos adultos.
O Ibope Mídia, que
anualmente divulga os dados de investimento publicitário no Brasil, constatou
que foram movimentados cerca de R$ 112 bilhões em 2013 com publicidade. A
televisão permanece a principal mídia utilizada pela publicidade, representando
70% do investimento. Ao cruzar essa informação com o fato de a criança
brasileira passar em média cinco horas e 35 minutos por dia assistindo à
programação televisiva é possível imaginar o impacto
da publicidade na infância: (Painel Nacional de Televisores, Ibope 2015)( .
Apesar de toda essa força,
a publicidade veiculada na televisão é apenas um dos fatores que contribuem
para o consumismo infantil. A TNS, instituto de pesquisa que atua em mais de 70
países, divulgou dados em setembro de 2007 que evidenciaram outros fatores que
influenciam as crianças brasileiras nas práticas de consumo. Elas sentem-se
mais atraídas por produtos e serviços que sejam associados a personagens
famosos, brindes, jogos e embalagens chamativas. A opinião dos amigos também
foi identificada como uma forte influência.
No âmbito da alimentação,
a publicidade é um fator que estimula a disseminação da maior epidemia infantil
da história: a obesidade. A pesquisa (Alvejando crianças com guloseimas, em
livr Targeting Children With Treats e tradução do inglês) de 2013 aponta que as crianças que já têm sobrepeso
aumentam em 134% o consumo de alimentos com altos teores de sódio, gorduras
trans e saturadas e açúcar, quando expostas à publicidade destes produtos.
O consumismo está
relacionado à ideia de devorar, destruir e extinguir. Se agora, tragédias
naturais, como queimadas, furacões, inundações gigantescas, enchentes e
períodos prolongados de seca, são muito mais comuns e frequentes, é porque a
exploração irresponsável do meio ambiente prevaleceu ao longo de décadas.
Concentrar todos os
esforços no consumo é contribuir, dia após dia, para o desequilíbrio global. O
consumismo infantil, portanto, é um problema que não está ligado apenas à
educação escolar e doméstica. Embora a questão seja tratada quase sempre como
algo relacionado à esfera familiar, crianças que aprendem a consumir de forma
inconsequente e desenvolvem critérios e valores distorcidos são de fato um
problema de ordem ética, econômica e social.
O Projeto Criança e
Consumo, do Instituto Alana, combate qualquer tipo de dirigida às
crianças por eO Projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana, combate qualquer tipo de comunicação mercadológica dirigida às crianças por entender que os danos causados pela lógica insustentável do consumo irracional podem ser minorados e evitados, se efetivamente a infância for preservada em sua essência como o tempo indispensável e fundamental para a formação da cidadania. Indivíduos conscientes e responsáveis são a base de uma sociedade mais justa e fraterna, que tenha a qualidade de vida não apenas como um conceito a ser perseguido, mas uma prática a ser vivida.
Entre 2010 e 2012, o
projeto manteve um blog, com o objetivo de discutir os principais
impactos do consumismo e da publicidade na formação da infância. Nele
há diversos textos sobre cidadania e mobilização, comportamento, política e legislação, saúde
e sustentabilidade.
Fonte: criançaeconsumo.org.br
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